De 2012 a 2023, uma ideia a germinar num grupo de músicos:
Luso Sangeet.

2012

Goa - Festival do Monte

2022

Museo do Oriente, Lisboa

Quando eu e Tarun tocámos em Goa (3 de fevereiro 2012), já tinha começado a experimentar na composição de música hindustani cantada em português. O motivo foi em parte que, embora consigo aprender uma canção em hindi, a improvisação exige uma fluência e a-vontade numa língua. Em hindi, ainda hoje, não tenho esta fluência. Mas também já tinha passado décadas a trazer música europeia do século XVIII, cantada na língua deles aos públicos em Inglaterra e Portugal. É um elo forte entre interpretes e ouvintes!

Enquanto no Festival do Monte, em Goa, perguntei a alguns dos lusófonos lá se já tinham ouvido música clássica indiana cantada em português. Antony Gonsalves foi mencionado, então fiquei descansado que há alguma precedência, sempre uma coisa boa na música indiana. Disseram-me que podia não ser possível, porque ele estava muito doente, mas talvez fosse interessante conhecê-lo. Na verdade, deve ter morrido uns dias antes, como mostra este artigo.

 

De volta a Calcutá depois do concerto, continuei a pensar como melhor apresentar a poesia portuguesa - uma língua muito cantável. (Em inglês, com excepções por exemplo da época de Shakespeare ou Purcell, ou do início da era de gravações de jazz ou Hollywood, é muito mais difícil encontrar textos que possibilitem que a voz e o texto brilhem.)

Lembro-me, ainda em 2011 de estar na cantina da ESML, (onde ainda estive a leccionar música de câmara antiga) a pedir dicas aos colegas enquanto trabalhava no texto de "Quase desmaio quando Krishna sopra no bambú", e a adaptar uma obra de prosa de Pessoa para uma canção lenta. (Ambas em raga Tilang, foram testados e apuradas durante a próxima visita à Índia.)

Alguns textos, quando se encontra o raga certo para os musicar, com fonética cantável e teor compatível, parecem compor-se a si próprios. Foi quando trabalhei pela primeira vez em poemas de Camões que encontrei isto, e logo algumas composições pareciam crescer em dias, como sementes bem plantadas.

As canções em Tilang foram estreiadas na Jadavpur University em fevereiro de 2013, e as mesmas, com duas novas composições com textos de Camões foram programadas no Museu do Oriente em novembro do mesmo ano, algumas com coreografia de Lajja Sambhavnath.

2013

Museu do Oriente, Lisboa

 

Flores do Cabo

É verdade que, tal como no jazz, na música indiana a improvisação, inventada ‘em voo’ e tecida em torno de uma composição pelos músicos, ocupa maior parte da apresentação. Mas uma canção, embora sucinta, é uma composição fixa, e deve ser memorável e memorizada, e serve durante a vida de um músico como lembrete do próprio raga; encapsulando os gestos típicos e a atmosfera do mesmo.

Algumas canções parecem ficar nas águas de bacalhau durante anos, mas de repente um detalhe cai no sítio certo, e tornam-se canções. Lembro-me de um dia ter sido contado de um doutor que fazia uma consulta, e alguém lhe trouxe uma chávena de chá. Perguntou à paciente, uma indiana, se ela bebia chá? "Ah, sim, Sr Doutor, bebo muito chá! Para manter a cor, e para manter o chá!" Num ensaio no mesmo dia com Miguel, perguntei acerca da expressão "falta de chá", que tem origem no tempo em que Catarina de Bragança trouxe o hábito de beber chá para Portugal e Inglaterra. Logo uma canção começou a borbulhar para a superfície, no raga Kalingra - um dos mais lúdicos no repertório. Em pouco tempo tive um texto que me agradou, mas foi preciso uma fase de verificação meticulosa nas visitas subsequentes à Índia, com Subhra quanto ao uso do raga, e com Tarun sobre o ritmo e ritmo da canção. Mais uma composição no mesmo raga fica para finalizar; a primeira linha foi cantada para mim pelo meu gato: “Eis-me aqui, enrolando em ti”, mas a segunda tem ficado à espera da palavra certa, que tem de encaixar na métrica que escolhi. Poetas, precisam-se! Ou tradutores entre língua felina e língua portuguesa.

Ragas como Bihag, com textos de Camões e de Pessoa, e outro da minha composição, entraram no repertório, e foram testados em concertos em Calcutá. Outros ragas de manhã, como é o caso de Kalingra, são Ahir Bhairav, com textos de Camões, e outros, um Tarana (com palavras sem significado, usadas na música de dança), canção por minha guru, Subhra Guha, e outra da minha composição com a minha aluna Elsa, e Bhupal Todi, excepcionalmente com um texto em alemão. De vez em quando, em vez de português ou hindi, usamos ‘canto em solfejo’ onde o texto é os nomes das notas.

Antes da primeira vinda do Tarun, compus, sempre com a atenção crítica da minha guru, em vários outros ragas, com letra de Camões, Florbela Espanca, Sophia de Mello Breyner, Pessoa, Sidónio Muralha, Afonso Duarte, Laxmanrao Sardessai, Bocage servem para outras alturas do dia e noite, ou para as épocas de monção e primavera.

Começava agora a ser mais do que tempo de trazer alguns dos meus amigos indianos para Portugal.

2017

Flores do Cabo

2022

Museu do Oriente, Lisboa

Texto para se completar logo que possível.

Torres Vedras

 

Sintra